Gestão de riscos em tempos de incerteza: qual o impacto do efeito borboleta nos negócios?
- Eduardo Paurá Filho
- 7 de out.
- 2 min de leitura
Por Eduardo Paurá Filho, advogado e sócio-fundador da Paurá Advocacia.
“O bater das asas de uma borboleta no Japão pode desencadear um furacão nos Estados Unidos.” A célebre frase de Edward Lorenz, frequentemente citada para ilustrar a Teoria do Caos, nunca esteve tão atual.
Transpondo-a para os dias de hoje, um clique de algoritmo no Vale do Silício, a explosão de um drone na Rússia, o lançamento de uma IA na China ou uma taxação precipitada em Brasília são exemplos bem plausíveis de eventos capazes de desencadear consequências imprevisíveis ou, mesmo que previsíveis, impactos inimagináveis - afetando a equação econômico-financeira de qualquer mercado e, ainda mais, de seus agentes.
Somam-se a essa instabilidade a crescente turbulência geopolítica, a reforma tributária em curso no Brasil e os efeitos exponenciais da entrada massiva da inteligência artificial generativa. Enquanto guerras, tarifas e ataques a rotas marítimas pressionam cadeias de suprimentos e fretes, a nova tributação nacional exigirá o redesenho imediato de preços, margens e centros de custos. Além de tudo isso, em um cenário de juros reais elevados, os pedidos de recuperação judicial já bateram recorde em 2024 e seguem crescendo em 2025.
A provocação que se faz: o empresário leitor está, de fato, olhando para sua matriz de risco e trabalhando cenários de ameaças e oportunidades?
Apenas em relação à inteligência artificial generativa, um relatório da Goldman Sachs projeta que até 300 milhões de postos de trabalho no mundo poderão ser automatizados. Gigantes como IBM e Accenture já substituíram departamentos inteiros por agentes algorítmicos. Para muitas empresas, isso significará o enxugamento de contratos terceirizados, a redistribuição de tarefas e, em casos extremos, a extinção completa do modelo de negócios. Para outras, a adoção rápida e estratégica da tecnologia resultará em ganhos inéditos de produtividade, margem e relevância.
A pergunta, portanto, não é mais se, quando, onde ou qual borboleta baterá suas asas — mas de que forma ela atingirá o seu negócio?
Ainda que desafiadora, a tarefa de antecipar-se às inúmeras possíveis mudanças exige algumas ações decisivas.
Rever o planejamento estratégico, auditar processos internos, renegociar contratos, revisar o planejamento societário e patrimonial, abreviar e encerrar litígios onerosos com o objetivo de gerar caixa no curto prazo e reforçar o capital de giro, planejar a desmobilização ou o remanejamento da mão de obra, renegociar e reperfilar dívidas antes que as margens desapareçam, além de revisitar e manter precisa e atualizada a projeção de fluxo de caixa — tudo isso passa a ser essencial.
Nesse cenário, reforçar a atuação preventiva dos departamentos jurídico, financeiro e contábil torna-se uma prioridade. Adotar um olhar cada vez mais proativo é imperativo na desafiadora missão de estar pronto para encarar a próxima borboleta.
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