O que 2025 nos ensina sobre gestão de crises e reestruturação empresarial?
- Victor Soares
- 4 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de set.
O crescimento acelerado dos pedidos
De acordo com o Monitor RGF de Recuperação Judicial, o Brasil registrou no primeiro semestre de 2025 4.965 empresas em recuperação judicial – alta de 17,6% em relação ao mesmo período de 2024. Desde o quarto trimestre de 2023, quando 4.045 pedidos foram contabilizados, os números crescem de forma contínua, revelando uma escalada preocupante para o ambiente empresarial.
Ainda segundo a consultoria RGF & Associados, o índice de falências após RJ atingiu patamar recorde: quase 30% das empresas que encerraram seus processos não conseguiram se reestruturar, contra uma média histórica de cerca de 20%. O dado sinaliza um ambiente mais hostil e menos favorável à recuperação, com uma diversidade de causas: elevado patamar da taxa básica de juros que dificulta a captação de novos recursos para financiamento da empresa durante a recuperação judicial e possíveis de financiamento DIP para a reestruturação da dívida (“exit financing”), diminuição do apetite de agentes de mercado para operações de risco envolvendo ativos estressados, falhas dos administradores na preparação da empresa para o processo de reestruturação e a recente exigência de regularização fiscal como condição para homologação de planos de recuperação judicial aprovados pelos credores são fatores recorrentes para formação do quadro atual.
Um dos principais fatores: Juros altos
Com a taxa Selic em 15% ao ano, o crédito bancário tornou-se extremamente caro, praticamente proibitivo, para a maioria das empresas. O cenário de endividamento é agravado em quatro frentes:
Capital de giro e investimentos mais caros, inviabilizando operações e planos de expansão;
Rolagem de dívidas mais pesada, sobretudo em contratos com taxas variáveis;
Consumo das famílias em retração, diminuindo receitas e reduzindo margens;
Desincentivo à financiamentos de saída, ante o custo elevado para refinanciar a dívida concursal.
A manutenção da Selic elevada, em função do controle inflacionário e do equilíbrio fiscal, cria um círculo vicioso: empresas mais endividadas, sem acesso a crédito e pressionadas pela queda na demanda.
O impacto internacional: tarifas dos EUA
As tarifas comerciais de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros adicionaram novas pressões ao cenário. O agronegócio, altamente dependente das exportações, foi o setor mais impactado.
A medida reduz a competitividade, obriga a busca por mercados alternativos menos lucrativos e pode gerar novos pedidos de recuperação judicial em um segmento que já é intensivo em capital. Isso tem especial impacto em setores que tinham nos EUA o mercado preferencial ou naquelas cujas mercadorias têm maior grau de perecibilidade, como a pesca e a fruticultura.
Gestão interna: um fator negligenciado
Para além dos fatores externos, muitos pedidos de RJ decorrem de falhas estruturais e/ou de governança financeira das empresas. É comum a ausência de controles sobre dívidas, ciclo financeiro, margens individuais das linhas e fluxo de caixa.
Mais grave ainda, observa-se alavancagem mal planejada, contraída em momentos desfavoráveis e a custos excessivos. Em tais condições, a crise não é apenas conjuntural, mas de modelo de gestão.
Setores mais afetados
O epicentro da crise atual está no agronegócio, com índices de RJ até seis vezes superiores à média nacional. Em Mato Grosso, produtor líder de soja e cana-de-açúcar, os números são particularmente críticos. Indústrias de processamento, como as produtoras de açúcar, arroz e etanol, lideram os pedidos.
Mas não só o agro sofre:
A indústria registrou 1.121 empresas em RJ no 2º trimestre;
O setor de serviços apresentou 1.117 empresas em RJ, refletindo queda no consumo das famílias;
O comércio atingiu 1.003 empresas em RJ, pressionado pelo alto endividamento e juros bancários.
Como as empresas podem atravessar o cenário?
Especialistas apontam que empresas mais resilientes são aquelas que:
Mantêm controle de caixa rigoroso, priorizando liquidez;
Renegociam dívidas de forma estratégica, aproveitando alternativas legais;
Ajustam operações com agilidade, reduzindo riscos de prolongar desequilíbrios.
A recuperação judicial ou extrajudicial podem ser instrumentos legítimos de reorganização, mas seu êxito depende da integração entre estratégia jurídica, planejamento financeiro e governança eficaz.
Conclusão
O recorde de recuperações judiciais em 2025 resulta da conjugação de fatores macroeconômicos adversos, tarifas externas e falhas internas de gestão. A sobrevivência e o crescimento empresarial, neste ambiente, dependem de antecipação, estratégia e assessoria especializada.
Na Paurá Advocacia, acompanhamos de perto esse cenário para oferecer soluções jurídicas que garantam segurança, conformidade e resiliência às empresas.





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